RODRIGUES, Írio. Uma missão de amor.Rio Grande: manuscrito, dez. 2001.


LEMBRANÇAS...

OS ANJOS

         Mãe, sei que minhas  pálidas recordações jamais irão exprimir o sentimento profundo que vivo neste momento, de imorredoura saudade. Mas sei também, que muito embora a implacável morte tenha nos separado deixou-me por consolo tua inesquecível lembrança que há de acompanhar-me até o fim dos meus dias, porque mamãe, viverás eternamente no meu coração.
       E quando o manto negro da morte  vier cobrir meu ser internecido pela tua ausência interminável neste mundo, num ato sublime de amor, minha alma comovida há de prostrar-se aos teus pés e numa reverência respeitosa, darte-ei o testemunho do imenso amor segredado em toda a minha vida, e desta ausência cruel e impiedosa que arrebata-me o ser nas inditosas horas de solidão e nostalgia porque a vida neste mundo sem tua presença tornou-se triste e enfadonha para mim. Fostes o sol radiante que iluminou o meu viver. A vela que se apagou para sempre,  tornando meus dias em noites tenebrosas da mais sinistra escuridão, e, hoje, ao recordar-te mamãe, vejo-te em pensamento, com aquela indescritível alegria de outrora e neste momento delirante ressurges numa tênue nuvem de fumaça onde vislumbro tua figura angelical.
   Neste momento de dor e agonia, reconforta-me saber que um dia nos reencontraremos no plano astral  e que por fim estaremos juntos por toda a eternidade.

     Até breve mamãe.

 


 

OS ANJOS

 

Perguntei ao santo padre,
Ainda na sacristia,
Por que entre os anjos brancos
Um só negro não havia.

Ele então me respondeu
Num tom triste e amargurado:
"O pintor os esqueceu
Por isso não foi pintado"

Eu então lhe respondi
" É imperdoável o que ele fez
Não pintar um anjo negro
Nem ao menos uma vez".

Não seria o preconceito
Que tocou seu coração?
Anjo branco tem direito
Negro só pra escravidão!

Esqueceu o tal pintor
Que os anjos são celestiais,
Que pra Deus Nosso Senhor
Negro e branco são iguais.

Que ele havia de pintar
Com a mesma maestria
Um anjo negro no altar
Da Santa Virgem Maria.

Para Deus não tem perdão.
O pecado cometeu
Com a palheta na mão
Só dos negros ele esqueceu.

Se assim foi, eu não aceito
E não sei por qual razão
Pintou anjos tão perfeitos
No azul da imensidão.

No azul do céu do altar
Não sei como esqueceu
Dos anjos negros pintar,
Isto até me comoveu.

Eu juro que fiquei triste
Com o exímio pintor
Se anjos brancos existem
Por que não ter de outra cor?

Só os negros esquecidos
E eles são anjos também
Serão no céu recebidos
Por Deus, Assim seja, amém.
 




                                              O POETA DOS POBRES


Sou o poeta dos pobres,
Dos tristes, dos desgraçados,
Dos que vivem abandonados
Pelas ruas a vaguear.
Dos que não têm guarida
Nem um prato de comida
Pra poder se alimentar.

Dos que dormem aí na rua
Em noites frias, sem lua,
Sem ao menos um cobertor
Que lhes sirva de agasalho
A mercê do frio do orvalho,
Tudo por falta de amor.

Dos pobre doentes e estropiados,
Do coxos, dos esfomeados,
Dos que passam em provação
Das criaturas esquecidas
Que andam a morrer em vida
E que são nossos irmãos.

Dos que passam a vida inteira
Remexendo nas lixeiras
A procura de um pão
Para mitigar a fome,
Crianças, mulheres e homens
Levando vida de cão.


 

AO FIM DOS MEUS DIAS

Ao fim dos meus dias
Só tive tristezas.
Mortas, as alegrias
Jazem sobre a mesa.

Tão sendo veladas
Minhas desventuras ,
Lágrimas derramadas,
Oh! Quanta amargura.

As velas acesas
Do meu funeral
Sonhos e incertezas
A queima é total.

Alguns levarão
Um ramo em flor
E depositarão
Sobre o meu amargor

Antes do cortejo
Até chorarão
Num último beijo
Sobre meu caixão.

Na cova onde um dia
Irei repousar
Terá fim a agonia,
Meu triste penar.

É o fim de uma vida
Triste desilusão,
Frustrada, sentida
No meu coração.

Adeus aos amigos,
Tenho que partir
Mas levo comigo
Saudades ao me ir

As velas se apagam
E a vida também,
Os sonhos se acabam
Nada mais além.
 


                                          NO BANCO DA AGONIA
 

Aquela mulher maltrapilha
É a filha da desgraça
Coitada, dorme na rua
Não tem nem onde morar.
Sua imagem seminua
Dá pena da gente olhar.

E eu a vejo todo o dia
Num sofrimento atroz,
Semblante sem alegria,
Embargada a sua voz.

No ombro carrega a manta,
Na mochila um cobertor,
Que alguém por muito amor,
Deu pra pobre infeliz
Se abrigar da noite fria
No banco da agonia,
Da praça do chafariz.

Eu a vi no calçadão,
No lixo juntando pão
Para fome mitigar
E a vejo com tristeza
Em meio as realezas
Que andam lá a desfilar.

Por amor vos pedirei
Pratiquem a caridade
Pelas ruas da cidade
Sempre anda um infeliz
A bater de porta em porta,
Uma vida quase morta
Não diga: "Eu nada fiz "

É na Xavier Ferreira
Sua morada hospitaleira
Pois não tem onde passar as
As noites tristes de inverno
Ela dorme num inferno
Num banco a tiritar.

Quem passar  lá a noitinha
Há de ver a pobrezinha
Com sua trouxa no chão
Onde carrega a desgraça,
É mais uma das que passa
No mundo da ingratidão.

Quem é mais que o mandarim da China?
Que o imperador do Japão?
Que o rei da Inglaterra?
O Poeta, no seu incomparável
Reinado de amor sobre a terra.
 


O DOM DA VIDA

Pai Vos agradeço pelo dom da vida
Através dela pratico o bem
Tornando a estrada triste mais florida
Por onde um dia há de passar alguém
Carente, carente de carinho
De uma palavra amiga e de amor.
Alguém que ande como eu, sozinho,
Sem ter quem lhe ofereça uma flor.

Permite Pai que eu possa consolar
Aos tristes solitários como eu
Que vivem neste mundo a penar
E pensam que o Senhor os esqueceu.

Não sei por que nesta vida
Ando só na contra mão
Se subo, é a descida
Se desço não encontro o chão

Eu não sou um professor
Porém a bem da verdade
Da cartilha do amor
Gosto da lição bondade.

Me chamam de mestre
Mas eu nada sou
O mestre dos mestres
Tudo me ensinou.

O Brasil é um pais gigante
Caminha a passos largos
Mas com pernas de anão.
 


 

TALVEZ ME VÁ


Tarde ventosa e fria
Aqui estou ao sabor da ventania
Confuso sem saber pra onde ir.
Agora sentei-me a pensar, talvez me vá
Para algum lugar do mundo.

Eu nada sei da vida e da morte
Na realidade quem sabe é o destino
Pra algum lugar irei, tenho certeza
A vida é um eterno prosseguir.

Caminhos que se cruzam com a incerteza
Na verdade , ninguém sabe aonde ir
Alguns caminham em vida para a morte
Outros da morte tentam ressurgir
De um leito de dor com fé e sorte
Revivem quando já estavam a se exaurir.
 


SER  SANTO

Eu queria ser santo
Pra abençoar a inditosa humanidade
Levar o amor e a paz a todos os recantos,
Ao meio rural e a cidade.

Ser portador da mensagem Divina
Um mensageiro a serviço do amor
E proclamar Seu Santo Nome
Em cada esquina
Levar a todos a bandeira do amor.

Ser santo, santo peregrino
A exemplo do Divino e bom Jesus
Levar a graça do Senhor aos pequeninos
E iluminá-los com a Sua santa luz.

Ser santo! Santo, quem me dera,
Mas sou um reles pecador
Nascido no tumulto desta era,
Das guerras onde impera o desamor.

Porém se por ventura
Eu viver a minha vida de alma santificada,
Um santo eu venha a  ser
Se prosseguir com Jesus na mesma estrada.
 





                                               UM SONHO DE PAZ

     O sonho de paz da humanidade só se concretizará quando o amor inundar o coração do mundo. Quando a ambição e o egoísmo for banido da face da terra, porque enquanto o homem não se purificar não haverá paz no mundo.
       Para conquistar-mos a paz universal é necessário que nos voltemos às coisas de Deus, e sigamos os Santos ensinamentos legados por Cristo, quando de sua trajetória terrena.
      O desamor tem imperado sobre maneira, mutilando os nossos sentimentos em relação ao próximo. A constatação desta realidade são as guerras que assolam parte do mundo, em pleno século vinte e um, devastando vidas inocentes e espalhando desgraça e terror por onde passam. Estas guerras são frutos do embrutecimento animal do homem que nesses tempos já eram para revelarem-se a semelhança de Deus, em todo o seu esplendor.
  Estou deveras decepcionado com a aberração humana. O mundo transformou-se num antro de violência sem precedentes. A busca pela paz é quase uma utopia. Mas não percamos as esperanças, o bem há de triunfar sobre o mal. Através da fé alcançaremos a bem aventurança prometida  pelo Divino Redentor.
      É preciso que nos entreguemos de corpo e alma deste propósito milenar e que nos atentemos às mensagens que nos chegam a todo o momento do alto, através dos anjos celestiais nos inspirando à remodelação íntima da moral Cristã.  Só assim alcançaremos a verdadeira paz mundial.

 
 

                             ENTRE AS MULHERES E AS FLORES


As mulheres simplesmente se perfumam
Eu prefiro as flores!

Eu prefiro as flores às mulheres!
As flores são mudas
As mulheres tagarelas!
As flores são quietas
As mulheres inquietas!
As flores nada exigem
As mulheres são exigentes!
As flores são perfumadas
As mulheres simplesmente se perfumam!
As flores são coloridas
As mulheres se colorem!
Pintam-se
As flores me alegram
As mulheres me entristecem!
As flores enfeitam a vida
As mulheres na vida se enfeitam!
As flores são sempre flores
As mulheres às vezes mudam!
Por mil razões
Eu prefiro as flores
Às mulheres!




                                                   POBRE RIQUEZA


Negros e brancos,
Ricos e pobres
Ninguém  é nobre.
Reis e rainhas
Somos iguais
Ante o túmulo
Não há reinado
São igualados
Aos desgraçados
Ninguém é mais.

Aristocratas!
Barões, nobreza
Pobre riqueza
É tudo vão
São consumidos
E esquecidos.
Monte de ossos
É o que eles são.

Imperadores!
Capitalistas
Grandes artistas
Não são ninguém.
Tanto orgulho
Tantas vaidades
Mas na verdade
Morrem também.

E são sepultados
Em finas capelas
Mas dentro delas
Só há podridão.
Prata e ouro
Em seus letreiros
Junto ao mau cheiro,
A ostentação.

Deixam fortunas
Em ouro e prata
A morte ingrata
Não os poupou
Vieram do pó
E ao pó retornam
Flores o adornam
Nada restou.




                                            PESCA PESCA PESCADOR


Um dia,  um humilde pescador
Atirou a rede do amor
No mar das amizades
E pescou tanto o pescador
Que seu barco foi ao fundo.
E um sentimento profundo
E os pesares mais profundos
Deram a praia da saudade.

De amizades carregado
A deriva se perdeu.
Na fúria do revoltado
Mar da vida onde viveu.

Homem firme, de coragem
Era um exímio pescador,
Nos mares da caridade
Pescava com muito amor.

Tempo feio,  tempestades
Como um bravo ele enfrentou,
No leito da enfermidade
Que a sua vida ceifou.

Gesto de desprendimento
De caridade e amor
Já nos últimos momentos
O transformaram em salvador.

Amigo,  leva a certeza
De que ninguém te esquecerá
Fostes uma vela acesa
Que jamais se apagará.

Logo após a tempestade
Que o seu barco afundou.
Partiu para a eternidade
Por isso não mais voltou.

Pesca, pesca pescador!
No mar , na terra e no céu,
Na pescaria do amor
As almas não ficam ao léo.

Te guardou Deus um cantinho,
Lá no céu, e muito mais
Trilharás novos caminhos
E agora descanses em paz.

Rio Grande entristecida
Chora o amigo que partiu
Para sempre desta vida,
Mas sua missão cumpriu.

Um marco da nossa história
Do nosso Rio Grande do Sul
Que partiu cheio de glórias
Rumando ao céu azul.

E hoje, lá no infinito,
Com o seu sorriso franco
Tem um anjo mais bonito
Que se chama Wilson Branco.

         Homenagem póstuma ao saudoso prefeito de Rio Grande, Sr. Wilson Matos Branco, um marco da política sul riograndense.




                                              POR QUE MEU DEUS?


Por que meu Deus me provas pela dor?
Se tenho um coração tão dedicado
Às coisas mais sublimes do amor,
E ando com Jesus sempre  ao meu lado.

Procuro dar a todos meu carinho,
E consolar na vida o sofredor,
Embora eu trilhando sobre espinhos,
Jamais deixei de praticar o amor.

Embora sufocado na amargura
A todo o infeliz que encontrar
Na terra a sofrer a desventura da dor
Eu hei de consolar.

Será meus Deus que nesta vida
Viemos a passar em provação
Prá ressarcir as dívidas esquecidas
Pretéritas,  e em busca do perdão?

Se assim for, então compreenderei
A Vossa justiça, a Vossa lei,
E as provas que na vida já passei
Me indultam do passado onde errei.


O DEDAL

Sou  qual um anão,
De tão minúsculo caibo
No interior de um dedal de costura,
De quando em quando
Saio as suas bordas
Para espiar a grandeza
Dos homens

E o que vejo?
Míseras criaturas
Que pensam serem
O que não são
Em suas estúpidas
Fantasias de irrealidades

Não passam de seres
Deslumbrados,
Supostos deuses
Das Luxúrias mundanas,
Escravos do orgulho
E das vaidades
Efêmeras e passageiras
Deste mundo hipócrita
Que os ilude com a falsa
Soberania dos títulos
E das posições sociais,
Tão transitórias quanto
A própria vida
Que arrastam pelas veredas
Espinhosas deste mundo.
 


 

HINO AO AMOR



Vamos dar as mãos,
Mostrar um sorriso,
Abraçar o irmão
'Oh, quanto é preciso.

Transmitir amor
Através do olhar,
Socorrer na dor
A quem precisar.

Acender a luz
Na escuridão.
Aceitar Jesus
De alma e coração.

Quem quiser amar
Junte-se a nós.
O amor cantar
A uma só vós.
 




Só Deus escreve direito por linhas tortas.
Se tais linhas tem defeitos, para Ele pouco importa.


ABERTURA

       Numa missão de amor voz dou conta do compromisso firmado por mim, quando ainda encontrava-me na erraticidade , ou seja, no mundo espiritual, aguardando a oportunidade de retorno a este plano de provas e expiações terrenas, afim de resgatar dívidas pretéritas adquiridas, é obvio, em anterior  passagem por este mundo.
       Deus, em sua infinita misericórdia, concede-nos através das reencarnações sucessivas os meios de reequilíbrio com suas imutáveis leis, nos submetendo através da dor a uma reforma íntima, moral e humanística para com os nossos semelhantes.
       Jesus, o Divino Redentor, um dia profetizou que ninguém sairá daqui sem que salde o último til. Essa referência milenar nos leva, indubitavelmente, às leis de causa e efeito. Portanto serei submisso à vontade do Pai que está no céu, aceitando os seus desígneos com resignação e amor, fé e perseverança.
       Só assim corrigirei os meus maus pendores, os quais são entraves ao meu desenvolvimento espiritual, que embarga sobre maneira a minha escalada evolutiva.
      Neste Natal e Ano Novo, explodam os corações de alegrias dinamitando violenta carga de amor sobre toda a humanidade.

                                                                         "Um ditoso Natal e Ano Novo"