RODRIGUES, Irio. No teatro da vida. Rio Grande: manuscrito, dez. 2000.


                                                   NO TEATRO DA VIDA

      Abrem-se as cortinas do teatro da vida para vos apresentar a peça em três atos, intitulada “Nascer, Viver e Morrer”, num cenário de sonhos e das incontidas desilusões.
av

      Elenco: A Humanidade sofredora...

       ...tendo por palco o próprio mundo, aonde vivemos os mais diferentes papéis, entre dramas e hilariantes comédias no desenrolar da vida terrena, onde cada um de nós tem sua peça para representar. O sucesso desta depende único e exclusivamente do nosso desempenho.
    O ator deste teatro não encarna nenhum personagem fictício como na dramaturgia tradicional. Ele é o artista principal de uma história verídica, escrita pelas mãos do destino e, entra em cena a partir do seu nascimento, para encenar momentos de glória ou de fracassos. 
       Os mais variados papéis são aqui desenrolados para a nossa interpretação na vida onde vivemos momentos de alegrias ou de tristezas, com desfechos trágicos emoldurados Por decepções e adversidades mundanas e, ao final, cansados e desiludidos por sofrimentos atrozes Por nós vividos, chegamos ao derradeiro fim de nossa representação; e, num ato misericordioso da providência divina, nos defrontamos com a morte que é o ponto final de nossa história neste mundo.




                                                           AO PÓ TORNAREMOS


        Caríssimos Irmãos:

       Quem somos nós na face da terra além de ínfimos grãos de areia que jogados ao léu, ao sopro do destino, despencamos irremediavelmente no abismo da morte, onde se extingue por fim todas as vaidades e as luxurias mundanas que tão orgulhosamente ostentamos durante nossa estada neste plano, esquecendo que a vida é efêmera e passageira, e, que após morte estes predicados de nada nos valerão no plano espiritual onde os títulos e posições sociais com os quais nos rotulamos na terra perdem sua razão de ser, porque estes foram criados pelas imposições sociais para a satisfação íntima do homem que se identifica com os aparatos da grandeza. Na inerência de sua imperfeição. Todas estas etiquetas, de certa forma, se extinguem por ocasião da morte .
      
Bem aventurados os que se conscientizam de seus valores intrínsecos e vêem o seu semelhante de igual para igual sem resquícios de soberba, porque na realidade, nada somos neste mundo além de um insignificante monte de pó, que o tempo inexorável consumirá, restando de nós apenas lembranças, e nada mais. Não devemos olvidar que no túmulo se extingue todas as realezas terrestres.
       Feliz daquele que ao passar por  aqui deixa, embora indelevelmente, sua marca registrada demarcando em seu círculo de amizades sua marcante personalidade, pelos exemplos da moral e da fraternidade exercida por amor a seus semelhantes, estando pronto a servir quando solicitada sua parcela de contribuição aos pequeninos da terra e a sociedade.
         Este deixará nas brumas do tempo, sem sombra de dúvidas,  uma saudade imorredoura de sua inapagável presença entre os seus contemporâneos que o lembrarão com carinho e admiração, pelo resto de seus dias.

           Atentem no que vos digo enquanto estamos a caminho.



AS REALEZAS TERRESTRES

 
    Desce deste pedestal, enquanto há tempo, as realezas terrestres também sucumbem. Seus castelos de grandeza e os alicerces do orgulho e da vaidade vemos ruir a todo instante neste mundo, extinguindo-se a prepotência e a empáfia dos que se julgam superiores aos demais.
       Mera ilusão, presunção tola da imperfeição humana que está condicionada a vãs fantasias e caprichos da matéria que disfarça seus odores mais pesados com finas essências e parfuns franceses, importados da Europa, mas que na realidade não dissimulam os odores insuportáveis  de um corpo em putrefação no túmulo onde não há lugar para tais vaidades infelizmente e onde todos nós, pobres mortais, via de regra, somos idênticos devido as mesmas circunstâncias.
      
Portanto lá não existem privilegiados.




Quadrinhas Por toda a parte
Quadrinhas inteligentes
Quadrinhas, a nobre arte
Dos poetas, simplesmente.

Por fim o verão se aproxima
No arvoredo, um pássaro a cantar
A mais linda canção.
Eu fiz as rimas
Ouçam, os acordes, ainda estão no ar.

Seu canto mais parece uma sonata
Até me inspirou um musical
No céu, o sol desdesfeito em prata
Jamais ouvi canção tão divinal.

 



                                          PARA A SUA MEDITAÇÃO


     Antes de mais nada devemos nos conscientizar da finalidade de nossa existência no plano terreno. O Por quê de nossa passagem pela vida, onde irremediavelmente nos defrontamos com situações adversas aos nossos anseios.
       Via de regra devemos adentrar num clima de recolhimento íntimo e profundo e questionar-nos com o nosso eu através de um acurado discernimento, a elucidação precisa às respostas a que tanto aspiramos.
       A mais das vezes somos acometidos de males e enfermidades irreversíveis as quais nem mesmo o bálsamo da fé e os alicerces da esperança conseguem demovê-las e vemos ruir a nossa fortaleza, indo Por terra o sonho de uma cura radical e miraculosa. São as desditas mundanas e os revezes um alerta a nossa conduta em relação ao próximo.
       Cada um de nós vive enclausurado na indiferença e no egoísmo, seguindo em frente sem olhar para trás para não ver o irmão que sofre as duras penas da dor e da miséria. A partir deste princípio, todos nós somos devedores e, aqui estamos para ressarcirmos as nossas dívidas pretéritas as quais granjeamos em precedentes passagens por este plano exilar. Este estágio é uma dádiva Divina. A oportunidade de burilar-nos espiritualmente. Outro sim, devemos usufruir o máximo desta passagem efêmera se quisermos nos abster de um retorno doloroso. A cada um será dado segundo as suas obras. Devemos atentar neste princípio cristão que nos indica a vereda da salvação, culminando no amor e na caridade a exemplo do Cristo, que dedicou sua vida a benevolência. “Amai-vos uns aos outros”, recomendava aos seus discípulos nas sinagogas e praças públicas, e a nós cabe amar nossos semelhantes indistintamente se quisermos alcançar a glória da vida eterna.
       Labutando com afinco na seara do bem comum, auxiliando-nos mutuamente quando se fizer mister, só assim resgataremos nossas dívidas ante o tribunal divino e teremos a bem aventurança de uma vida plena de paz e a esperança de um dia habitarmos numa das inúmeras moradas celestes da casa do pai.




Poeta, um missionário do amor,
Do templo da caridade
Com mensagens do Senhor
Prá toda a humanidade.

O burguês e o pobretão;
O Doutor e o indigente;
Se tiverem bom coração
Se aproveita pra semente

A mentira, na verdade
Se for prá salvar alguém,
Se transforma em caridade,
Na verdade só faz bem.

Nem todo o açúcar do mundo
Daria para adoçar
Este amargor profundo
Que eu vivo a ocultar.


 




                                                     APRESENTAÇÃO


       Por questões de respeito a vossa privacidade e de sua excelentíssima família, eu, o Poeta Pobre, desobrigo-me de abraçá-los pessoalmente como seria a praxe nesta oportunidade. Mas o faço, através deste, em sentido indireto ao almejar a vossa senhoria e seus familiares um ditoso Natal e promissor Ano Novo repleto de perenes felicidades, saúde e paz. Augurando um suave clima de harmonia e compreensão mútua no recesso de vosso respectivo lar, junto aos que lhe são caros, é obvio, rogando ao céu que as bênçãos do divino Mestre Jesus inundem vossas vidas com a luz edificante do amor e da fraternidade. Só assim, através do nobre sentimento de solidariedade humana, reafirmaremos nossa comunhão com Cristo, o qual num gesto inigualável de amor e desprendimento, um dia, entregou-se aos seus algozes na cruz, doando sua própria vida em redenção de nossos pecados.
       Hoje, dois milênios após este fato histórico, narrado Por seus adeptos e seguidores nos santos evangelhos,  da remota era cristã, reverenciamos ao Senhor, numa das mais significativas datas para a humanidade. Mas não basta comemorarmos, nesta noite natalina,  com uma suntuosa ceia, regada a seletos vinhos tintos de procedência européia, num requinte ímpar, se não estivermos realmente com Cristo em nossos corações.




                                               MENDIGOS E NOBRES
 

Somos todos iguais
Na vida e na morte
Os fracos e os fortes,
Todos morrerão.

Não há privilégios,
Escravo e senhor
Da prova e da dor
Não escaparão.

Em meio a riqueza
Pobres e ricaços
Morrem, tudo é falso
A glória e o poder
São falsas posturas
Que as criaturas deviam esquecer.

Nem rei, nem rainha,
Nem imperador
Terá mais valor
Que um indigente.
Aos olhos de Deus
São todos iguais,
Ninguém é capaz
De ser diferente.

Em vão se julgam
Os grandes da terra,
Mas Deus que não erra
Fez o homem assim.
Se rico, se pobre,
Mendigo ou nobre,
Todos o mesmo fim.

O ouro e a prata
Metal nobre, a platina
Ante a lei Divina
Não tem um valor.
O que realmente
Enriquece na vida
É a mão destemida
Que planta o amor.

Não existe riqueza
Maior neste mundo
Que o bem fecundo
De um bom coração.
Quem ama partilha
Do pouco que tem,
Pratica o bem
Com satisfação.

Castelos, riquezas,
Ó, quanta ilusão.
Os bens desta terra
Não vão no caixão.
A morte implacável
A tudo consome,
Feliz é o homem
De bom coração.

 




                                       A LEGIÃO DOS DESGRAÇADOS


Debaixo das marquises
Onde dormem os infelizes,
Sobre as folhas dos jornais
Quantos morrem congelados

Dormindo desabrigados
Nas cruéis noites hibernais.
S
ão as vítimas do relento
Que ali morrem sonolentos

Sem um gemido de dor
Atirados a má sorte
A sofrer até a morte
Ao relento, que horror

E os direitos humanos
Onde estão? Só vejo insanos
Pelas ruas a padecer,
Virando latas de lixo

Disputando com os bichos
Resto de pão pra comer.
C
rianças, jovens e velhos
Andarilhos neste mundo,

Num sofrimento profundo
Loucos de fome e de frio,
É a legião dos desgraçados
Que anda aí por todo o lado

E a sociedade não viu.
A sociedade assassina
Quase sempre dobra a esquina
Sem ao menos olhar pra trás,

Por que se olhar de frente
Vai ver bandos de indigentes
E por eles pouco faz.
Gente simples e esquecida

Que a vida condenou
A viver como indigente,
Seus crimes foram carentes
E a sociedade os matou.



                                                            A MEDIDA


Existem milhões de homens
Neste mundo desigual
Brancos e morenos,
Grandes e pequenos,
Mas um só grande homem
É mui raro se encontrar,
Ele existe, está esparso por aí
Nos entremeios da agitada multidão.

Um grande homem não se mede pela estatura,
E um pequeno a mais das vezes é maior
Do que um gigante de dois metros de altura.
Se a conduta deste último for da pior.
Nem sempre um homem grande
É um grande homem.

Às vezes, é a mais reles criatura,
E dos pequenos grandes homens
Não se tomem
O verdadeiro lugar pela altura.
Porque e grandeza de um homem
Realmente está num predicado:
O da moral.
Pequenos homens mas grandes moralmente,
Estão a frente na medida principal.



                                                         Exemplo de um grande homem;

                                                                   Dr. Getúlio Vargas




A diferença que existe
Entre a vida e a fumaça
É a de que uma passa
Sem deixar vestígios,
A outra deixa lembranças.


Eis que a minha poesia, ninguém sabe onde nasceu
Se veio da estrela guia lá do céu
Ou do meu eu.



                                                      O PESCADOR


Era uma vez um humilde pescador
Que jogou a rede do amor
Num mar das amizades.
Pescou tanto tal pescador
Que o seu barco foi ao fundo.
E um sentimento profundo
Deu a praia da saudade.

De amizades carregado
A deriva se perdeu.
Na fúria do revoltado
Mar da vida onde viveu.

Homem firme, de coragem
Era um exímio pescador,
Nos mares da caridade
Pescava com muito amor.

Temporais e tempestades
Como um bravo ele enfrentou,
No leito da enfermidade
Que a sua vida ceifou.

Logo após a tempestade
Que o seu barco afundou.
Partiu para a eternidade
Nunca mais ele voltou.

Pesca, pesca pescador!
No mar , na terra e no céu,
Na pescaria do amor
As almas não ficam ao léo.

Te guardou
Deus um cantinho,
Lá no céu, e muito mais
Trilharás novos caminhos
E agora descanses em paz.

Rio Grande entristecida
Chora o amigo que partiu
Para sempre desta vida,
Mesmo assim, ele sorriu.

E hoje, lá no infinito
Com o seu sorriso franco
Tem um anjo mais bonito
Que se chama Wilson Branco.


      Homenagem póstuma ao saudoso prefeito de Rio Grande, Sr. Wilson Matos Branco, um marco da política sul-rio-grandense. 2001.



      
                                                 O OUTRO DILÚVIO


Deus anda triste, está chorando
Ao ver tanta maldade sobre a terra.
Os homens vivem se degladiando
Esqueceram a paz, só querem guerra.

A chuva é o pranto do Senhor
Ao ver que a humanidade está perdida
Os homens não acreditam mais no amor
E andam por aí ceifando vidas.

Será que Deus, o pai onipotente
Terá que a humanidade castigar?
Mandando sobre a terra novamente
Outro dilúvio para tudo devastar?

Se assim for, a humanidade está perdida.
Há de morrer inocente e pecador
E quem quiser  salvar a própria vida
Plante a paz, em nome do amor.



                                            ATORES E ATRIZES


Cada um de nós tem sua história
Uns de ventura, outros de amargor
Que ficarão para sempre na memória
Tempos ditosos ou de  dor.

Atores e atrizes
Cada um tem seu papel
Uns vivendo infelizes
Outros que vivem num céu.

São artistas de cinema
Mesmo sem se aperceberem
Representam suas penas
Os que vivem a sofrer.

E tem uns que vivem a vida
A sorrir, não sei por que
Talvez seja mais florida
A estrada do seu viver.

Eu não tive a mesma sorte
No meu filme “O infeliz “
Representei ser um forte
O destino assim o quis.

Sofri minha desventura
A sorrir representei
Ser feliz na amargura
Dos tormentos que passei.

Nós somos protagonistas
De um filme sem igual,
Um papel pra cada artista
Morremos, eis o final.




                                             
CARTÃO DE VISITA


       Almejo que o conteúdo filosófico de minha obra aqui repassada, exprima sobremaneira a vastidão dos meus sentimentos, retrate a sensibilidade emotiva de minh’alma.
       Na vazão cantante de uma rima, eu possa através de minha expressão simples e popular, tocar fundo as profundezas do vosso ego, enlevando vosso ser, a sublimes momentos de êxtase e encantamento.
    Aqui está gravada a canção emotiva deste canarinho cantor. Seus melancólicos acordes, você os ouvirá, com desvelada ternura na quietude de sua solidão. Vasculhará fundo o ninho onde habita a sua alma enternecida e altissonante que em meio a tantas tristezas e solidão, ainda entoa um hino de amor. 



                                E A HUMANIDADE NEM PERCEBERÁ


Se o mundo declarar guerra contra mim
Não combaterei, sou um soldado da paz!

Se os homens não entenderem a minha mensagem de amor,
Não importa, eu os entenderei!

Serei brando quando me aguçar a ira,
Passivo nas contendas!

Humilde diante dos prepotentes,
Amo a vida e não menosprezo a morte!

Sinto-me maior na grandeza de minha pequenez
Não desafio, creio em tudo!

Partirei, mas voltarei aqui um dia.
Não tenho tempo para as orgias mundanas!

Mas antevejo as alegrias do céu
A oração é o meu refúgio!

Não morrerei porque sou imortal.
No corpo material camuflei minha alma.

E por falar em almas, dia desses
A minha vai alçar-se ao infinito.

E a humanidade nem perceberá
A minha ínfima ausência.


                                                                  2004



                                     ENTRE AS MULHERES E AS FLORES


As mulheres simplesmente se perfumam
Eu prefiro as flores!

Eu prefiro as flores às mulheres!
As flores são mudas
As mulheres tagarelas!
As flores são quietas
As mulheres inquietas!
As flores nada exigem
As mulheres são exigentes!
As flores são perfumadas
As mulheres simplesmente se perfumam!
As flores são coloridas
As mulheres se colorem!
Pintam-se.
As flores me alegram
As mulheres me entristecem!
As flores enfeitam a vida
As mulheres na vida se enfeitam!
As flores são sempre flores
As mulheres as vezes mudam!
Por mil razões
Eu prefiro as flores
Às mulheres!

                                                                                                        



                                                   POBRE RIQUEZA


Negros e brancos
Ricos e pobres
Ninguém  é nobre
Somos iguais
Ante o túmulo
Não há reinado
Reis e rainhas
São igualados
Aos desgraçados
Ninguém é mais.

Aristocratas!
Barões, nobreza
Pobre riqueza
É tudo vão
São consumidos
E esquecidos
Monte de ossos
É o que eles são.

Imperadores!
Capitalistas
Grandes artistas
Não são ninguém.
Tanto orgulho
Tantas vaidades
Mas na verdade
Morrem também.

E são sepultados
Em finas capelas
Mas dentro delas
Só há podridão
Prata e ouro
Em seus letreiros
Junto ao mau cheiro,
A ostentação.

Deixam fortunas
Em ouro e prata
A morte ingrata
Não os poupou
Vieram do pó
E ao pó retornam
Flores o adornam
Nada restou.
                                                                                                            



                                                        O AVARENTO


Aquele homem não tinha amizades,
Tinha o dinheiro e a ninguém auxiliou,
Mas um dia por infelicidade
Caiu na rua e de alguém precisou.

Por ali vinha um pobre coitado
E ao ver o ricaço no chão
A gemer com um dos joelhos quebrado
Socorreu-o estendendo-lhe as mãos.

Não fosse o pobre que ali vinha passando
De sentimentos voltados ao bem
Aquele homem, de dor, morreria gritando
Pois por ali não passou mais ninguém.

Porém a sorte ajudou o ricaço
Foi neste instante que o pobre passou
E carregou o ferido em seus braços
Pleno de amor, mais um bem praticou.

E constrangido, o rico avarento
Sem saber como agradecer
Tirou do bolso uns trinta talentos
Os deu ao pobre sem nada dizer.

Desde esse dia tornou-se fraterno
A caridade praticou com amor
Entrou nos céus, saiu do inferno
Em que vivia o tal rico senhor.

                                                                                       



                                              UM SENHOR DA NOBREZA


Noite tempestuosa e fria
Aqueces as tuas alegrias
Nas calorosas chamas do prazer.
Tua lareira vara a noite acesa.
Petiscos finos e vinhos sobre a mesa.
Puro egoísmo a te entorpecer.

Meio da noite surge a criadagem
Para servir-te tens um pagem
Ao simples espalmar das mãos
Pronto senhor aos teus aposentos
Enquanto os pobres dormem ao relento
Loucos de fome sem comer um pão.

Pobre de ti, Senhor da nobreza,
O quanto é falsa a tua realeza
Os teus castelos de prazeres vãos
Não destes conta em tua vaidade
Que para Deus, rico na verdade
É quem pratica o bem de coração.

Não partilhaste em meio a riqueza
Uma migalha de tua farta mesa
A quem pedia respondeste não
Fechaste a porta para o indigente
Mas hás de vir aqui novamente
Através da reencarnação.

Se cumprirá em ti a lei, e um dia
Hás de tornar pedinte a quem pedia
A mesma porta tu irás bater
Só que ao invés de rico abastado
Virás a terra pobre e desgraçado
A implorar um pão para o viver.


                                        

                                                      CIDADE MORTA


A cidade está morta, falecida
As ruas estão desertas, sem ninguém.
Nas esquinas, as lâmpadas coloridas
Estão fracas e vão se apagar também.

Sopra um vento frio, gelando a alma,
Aterrorizando o meu ser
Caminho entre as sombras, a noite é calma
Ouço minhas pisadas a tremer.

E o vento sopra acima do telhado,
Daquele imenso casarão
Onde passo a noite assustado
Com medo de ver uma assombração.

A cidade está morta, é tão triste
Ver as ruas vazias, sem ninguém.
Se é verdade que fantasmas existem
Se assustariam como eu também.

 



                                               
UMA ROSA PRA ELVIRA


Elvira era uma pobre indigente
De porta em porta vivia a mendigar
Haviam morrido seus parentes
Ficou sozinha neste mundo a penar.

A conheci numa praça da cidade,
Ali em frente ao antigo mercadão
Sempre andava por ali, todas as tardes
A carregar a sua desilusão.

Ela contou-me que cansada desta vida
Neste mundo não queria mais viver
Sonhava com a hora da partida
Para acabar de vez com o seu sofrer.

E em pouco tempo depois ela morreu
Num bate-bate sem acompanhamento
Foi o seu corpo, o mundo a esqueceu.
Pobre Elvira, quanto sofrimento!

E lá no Campo Santo, numa cova,
Descansa em paz.
Do rosário de amargor,
Em que viveu Elvira em sua prova.

Dormiu no frio, louca de fome,
Quanta dor!
E nem ao menos uma flor na sepultura
Além da cruz onde jaz a infeliz,
Que aqui viveu seus dias de desventuras
Sem ter ninguém pra amenizar o seu matiz.

Na mesma época fora sepultado
Num mausoléu um rico senhor
E por ser gente fina e abastado
No seu sepulcro havia muita flor.

Não resisti, robei-lhe uma florzinha
E ofereci à pobre indigente
Que além da cruz na cova mais não tinha
Somente a rosa que lhe fiz presente.

 



                                                        
  ENIGMA

Imagine uma pessoa humilde. Já imaginou?
Outra mais humilde. Outra o dobro da mesma que agora está  em questão.
Esta última sou eu. Me entendeu?

O mundo é grande, eu pequeno.
Ficarei no meu casulo até que os homens declarem a paz.
Ó! Quanto almejo a ditosa paz universal.



                                                      UM SONHO


Vejam só quão interessante
Alcei os braços,  me pus a voar,
No infinito os planetas distantes,
Juro por Deus, eu fui visitar.

Rasguei o céu, voei no espaço
Pisei estrelas de raro esplendor
E prossegui alçando os braços
Voando livre como um beija-flor.

Eu vi Jesus, Ser Iluminado
A Santa Mãe e o Espírito Santo,
Anjos celestes voavam ao meu lado,
No céu azul onde tudo é encanto.

Mas despertei deste sonho lindo,
Juntinho a Deus voando ao léu
Por entre as nuvens, ainda sorrindo
Só lamentei não despertar no céu.




                                                 POR ONDE ANDEI


Por onde andei nesta vida
Vi alegria e desgraça
Gente pobre e esquecida
Dormindo em banco de praça.

Vi cego andar sozinho
Sem ninguém pra lhe ajudar
A atravessar o caminho,
E a multidão a passar.

Vi coxos e surdos mudos
Gente pobre a mendigar
Neste mundo tem de tudo
É só querer enxergar.

E na cadeira de rodas
Vi paraplégicos a passar
Vi gente fina, na moda
Sem uma esmola pra dar.

Vi doentes e estropiados
Mal podiam caminhar
Nas muletas apoiados
Senão não conseguem andar.

Vi miséria na riqueza
Gente morando em mansão
Vivendo a maior pobreza
Na fartura e muito pão.

Eu queria que no mundo
Não houvesse guerra nem dor
Que o sentimento profundo
Do ódio virasse amor

Que houvesse paz na terra,
Ao invés do ódio,
O perdão se concedesse a quem erra
Mas de todo o coração.

E a essência mais pura
Num sorriso vi também
Da criança a criatura,
Mais doce que o mundo tem.

Vi desgraça e alegria
Neste mundo onde andei
Juro por Virgem Maria
Não foi isso
Que eu sonhei.



                                                  BANCO DA PRAÇA


Poeta do banco da praça
Eu sou, mas não sou vagabundo.
Transcrevo a alegria e a desgraça
Que andam a passar neste mundo.

Eu falo do rico e do pobre,

É simples de me entender
Do rico do coração nobre
Do pobre que é rico sem Ter.

Sem Ter um tostão pra doar
Mas rico por natureza
Sempre pronto a ajudar
O seu irmão de pobreza.

Eu falo do pobre e do rico,
Daquele que tem demais
E diz sempre: Não abdico
Dos meus bens, não sou capaz.

Eu falo do avarento,
Do mesquinho e cruel
Que vê o irmão sedento
De sede e lhe dá fel.

Eu falo e não me importo
O que vão dizer de mim
Se não trancarem a porta
O egoísmo não terá fim.

A porta que me refiro
e aquela, a  do coração
Matem o egoísmo a tiros
Por amor a seus irmãos.
 



                                              SE O CACHORRO FALASSE!
                                                      

Se o cachorro falasse
Na certa iria dizer
“Que existe homem cachorro
Nas ruas, e ninguém vê".
Neste mundo a cachorrada
Anda solta por aí,
Cuidado! Anda enraivada
Até morde sem latir.

Eu conheço um cachorro
Farejo como animal  
Se me morde
Eu não morro
Mas sei quanto é fatal

São frios e traiçoeiros
Valem menos que o Totó,
Nosso fiel companheiro
Quando a gente anda só

Tem cachorro envergonhado
De certos homens também
Disparam, ficam assustados
Da raiva que eles têm.

Escusem minha impressão
Mas a Maldade que existe
Nos homens sem coração
Para mim é muito triste.

Porque sou homem também
E não vejo uma razão
Pra fazer mal a alguém
Quando posso dar-lhe a mão

Mas existe o verdadeiro
Homem de bom coração
Na hora do desespero
Nos estende a sua mão.

Existe o que não presta
O que mata a sangue frio,
Dizendo “A hora é esta,
vou vingar-me, ninguém viu” 

Tem homem, cachorro-fera
Não perdoa a ninguém
De tocaia nos espera
Quando a chance lhe convém.
Tem cachorro disfarçado
De homem bom por aí
Andando ao nosso lado
Sem a gente pressentir.

Se não te morde agora,
Na certa será depois
Só está esperando a hora
Propícia entre os dois.

Quando ele te sorri
Pode ser por traição,
Cachorro-homem já vi
Nos chamando de irmão.

Dá facadas pelas costas
E tiros à traição
Maldade nunca demonstra
Nos beija e aperta a mão.

Queria que eles tivessem
O doce que o açúcar tem
Que o mal nunca fizessem
Nem matassem a ninguém.

Que os tais, os mesmos fossem
Uns anjos vindos do céu
Que permanecessem doces
Do crime não fossem réus.

Por isso tenha cuidado
Não confie em ninguém
Que não tenha lhe provado
Que só quer ver seu bem.

Lembra Judas Escariotes
Que beijou, depois traiu?
O Mestre levou a morte
Logo após se destruiu.

A soma, trinta dinheiros
Mesmo assim ele vendeu
Jesus, de Deus o Cordeiro,
E depois se arrependeu.

Comprou corda e se enforcou
Do remorso que sentiu
Mas Jesus perdoou
O algoz que o traiu.

Talvez eu esteja errado
Mas havemos de convir
Que homem cachorro brabo
Não devia de existir.

A humanidade pervertida
Não dá conta, se esqueceu
Que o maior bem desta vida
É a vida que Deu nos deu.

E ninguém tem o direito
De roubá-la de ninguém
Deus está insatisfeito
Como eu estou também.


                                        OS DOIS SACOS                                        


Eu queria ter dois sacos de dinheiro
Um pra mim, o outro para doação
Sairia distribuindo o dia inteiro
Muito dinheiro, para o pobre comprar pão.

Ah! Quanto é triste ver a fome dessa gente
Tanta miséria espalhada por aí,
Que se eu tivesse dinheiro, certamente
Ia doar a quem tem fome, repartir.

Mas sei que nada tenho, quem me dera!
Ter dinheiro para o próximo ajudar,
Transformaria o inverno em primavera
Dos que vivem neste mundo a penar.

É o meu sonho ter dois sacos de dinheiro
Um pra mim, outro para repartir
Com a pobreza que anda aí
O dia inteiro de porta em porta
A bater sempre a pedir.

 



                                                               FINADOS


Buquês de flores
E coroas ornamentando
Os túmulos  dos nossos antepassados.
A pobre mãe ante a cova está chorando
A morte trágica de seu filho amado.

Nossos entes queridos sepultados
A mãe, o pai, o vovô e a vovó
Quanta tristura neste dia de finados
O pobre órfão, neste mundo ficou só.

Parentes, amigos hoje, tão ausentes
Ficamos nós neste mundo a recordar
Na saudade viverão eternamente
Não se olvida a perda d’um familiar.

Por isso aqui hoje estamos reunidos
Reverenciando nossos entes do passado
Que já morreram mas não foram esquecidos
Por seus parentes neste dia de finados.

Também um dia outros nos visitarão
No Campo Santo lembrarão nossa memória
A vida é assim, uns chegam, outros vão pra eternidade
No reino da Glória.

Namorada, esposa, mãe e avó
Quatro pessoas distintas numa só.
 



A VELA DA CARIDADE


Acenderemos a vela da caridade
Iluminando o obscuro corredor da avareza
E o egoísmo por nossa bondade
Há de apagar-se ante o bem da vela acesa.

Ao sopro vindo do fundo do coração
Há de apagar-se a chama da maldade
Onde há trevas, só escuridão
A ofuscar o sentimento da bondade.

Só a luz do bem, do amor, da caridade
A iluminar a vida nos trará
Ainda neste mundo a felicidade
Que a humanidade sonha alcançar.

Nos recônditos confins de minh’alma
Habita um ser divino e angelical
Provindo de uma estrela fulgurosa.
O meu corpo não é mais que um simples disfarce, creio.

Logo após o carnaval da vida, desfar-me-ei desta inútil fantasia,
O meu corpo.



                                                   AINDA A CAMINHO


Ainda a caminho
Deixarei prostrado
O meu olhar
Sobre aquela rosa
Fresca e perfumada
Desposada por um colibri
Em seu passeio matinal
No cenário artístico de um jardim.

E no bailado atônito
De seu vôo
A graça delicada
De seu beijo
A sugar o néctar
Saboroso de suas pétalas
Cor de algodão.

E eu! Eu morrendo de ciúmes
Daquele pássaro
Frágil e pomposo
Impecável em sua vestimenta
Cor de mar.

Indiferente ao meu ciúme
Alí a frente dos meus olhos
Num clima primaveril
Ele a conquistou
Com toda aquela sua majestade

Sim! Dominou-a e a possuiu
Possuiu a rosa, a branca rosa
Dos meus sonhos.

Hoje dormirei
Abraçado com a minha tristura
Sem o amanhã
Me despertar
Nas praças
E nos lugares
Por onde hoje ando
Há de ficar insolúvel
A minha presença

No eco do meu rir,
Nas lágrimas amarguradas,
Que de quando em quando
Assaltam o meu ser,
Enclausurado,
Na mais triste solidão.

Sumirei!
Mas sobrará de mim
Um resto de nostalgia
Na virada daquela esquina
Que tantas vezes me viu passar
Com minha bolsa
Debaixo  do braço
Carregada de esperanças
À caminho, talvez do nada.


  

                                             PARA A SUA MEDITAÇÃO



    Antes de mais nada devemos nos conscientizar da finalidade de nossa existência no plano terreno. O porquê de nossa passagem pela vida, onde irremediavelmente nos defrontamos com situações adversas aos nossos anseios.
       Via de, regra devemos adentrar num clima de recolhimento íntimo e profundo e questionar-nos com o nosso eu através de um acurado discernimento, a elucidação precisa às respostas a que tanto aspiramos.
       A mais das vezes somos acometidos de males e enfermidades irreversíveis as quais nem mesmo o bálsamo da fé e os alicerces da esperança conseguem demovê-las. Vemos ruir a nossa fortaleza, indo por terra o sonho de uma cura radical e miraculosa. São as desditas mundanas e os revezes um alerta à nossa conduta em relação ao próximo.
       Cada um de nós vive enclausurado na indiferença e no egoísmo, seguindo em frente sem olhar para trás para não ver o irmão que sofre as duras penas da dor e da miséria. A partir deste princípio, todos nós somos devedores e, aqui estamos para ressarcirmos as nossas dívidas pretéritas as quais granjeamos em precedentes passagens por este plano exilar. Este estágio é uma dádiva Divina. A oportunidade de burilar-nos espiritualmente. Outrossim, devemos usufruir ao máximo desta passagem efêmera, se quisermos nos abster de um retorno doloroso. A cada um será dado segundo as suas obras. Devemos atentar neste princípio cristão que nos indica a vereda da salvação, culminando no amor e na caridade a exemplo do Cristo, que dedicou sua vida à benevolência. “ Amai-vos uns aos outros”, recomendava aos seus discípulos nas sinagogas e praças públicas, e a nós cabe amar nossos semelhantes indistintamente, se quisermos alcançar a glória da vida eterna.
       Labutando com afinco na seara do bem comum, auxiliando-nos mutuamente, quando se fizer mister, só assim resgataremos nossas dívidas ante o tribunal divino e teremos a bem-aventurança de uma vida plena de paz e a esperança de um dia habitarmos numa das inúmeras moradas celestes da casa do Pai.
 



                                                 O FILHO DA LAVADEIRA



Sou filho da lavadeira
Da serviçal, é o que sou
Minha mãe a vida inteira
Meus pensamentos lavou.

Lavou roupa numa tina
E ensinou-me a passar
Estas mensagens divinas
As quais vivo a propagar.

Com sabão lavou minh’alma
Enxaguou meu coração
Com água límpida e calma
Da bica da inspiração.

E assim me fez poeta
Para o mundo escutar
As minhas rimas diletas
Que hoje vivo a cantar.

Dia e noite, noite e dia
Eu canto pleno de amor
Esta triste melodia
Só para espantar a dor.

A dor triste da saudade
Que em meu peito se aninhou
A minha felicidade
Ao partir ela levou.

Hoje a vida me condena
A viver sem seu amor,
Minha saudosa mãe morena
Vou cantar-te aonde eu for.